Quando fazemos uma coisa com a mente clara e livre de complicações, não temos ideias ou sombras, e nossa atividade é vigorosa e direta. (Suzuki, 1994, Palas Athenas)

Você já viu o leão momentos antes do ataque? É uma imagem única. Naqueles olhos fixos no seu objetivo, naquele olhar penetrante, aterrorizante e vidrado percebemos o tamanho da sua  concentração; nada mais importa, não há nada ao seu redor, nenhuma distração. Imerso no seu instinto de sobrevivência só existem ele e sua presa. Concentrado, seu corpo e sua mente são somente um, uma máquina com o propósito de acertar seu objetivo.

Um mestre zen budista disse aos seus discípulos certa vez: “Ao fazer algo, se você concentra sua mente na atividade com convicção, a qualidade de seu estado mental torna-se a própria atividade. Quando você se concentra na qualidade do seu ser, você está pronto para a atividade.”

Tudo que fazemos ou  ainda vamos fazer tem início primeiro na nossa mente, mesmo que inconscientemente, mesmo que sem nos darmos conta ela está se organizando, reunindo energias para realizar algo.  É a preparação, a ilustração mental, o planejamento para a ação. Portanto, facilmente percebemos que, quanto mais focados, concentrados e imbuídos na nossa atividade cerebral que antecede o ato, maior a qualidade da própria ação em si mesma, mais eficiente ela será. O produto final que desejamos, seja ele qual for – estudar, trabalhar, treinar – certamente será mais bem executado.

Então, o que o leão e esse tal mestre tem a ver com o tênis de mesa? Este é o ponto; ou melhor, esta é a batida perfeita que todos querem executar: desenvolver a capacidade de se concentrar e de se manter calmo e focado como base psicológica ideal para a prática de qualquer esporte, especialmente para um esporte tão dinâmico e intenso como o tênis de mesa.

Perceba! Sempre haverá necessidade de assimilar mentalmente o ensinamento da técnica para depois executá-la. No treino, o técnico ensina, aquela informação é recebida pelos seus sentidos (visão e audição) e passada do seu cérebro para seu corpo começar a trabalhar. Ou, então, em uma situação de jogo, no calor das circunstâncias emocionais que existem em uma partida, você recebe instruções do seu técnico e tem que absorver tudo aquilo e colocar em prática logo em seguida. Ou, ainda, também em uma situação de jogo, você vê a necessidade de mudar taticamente as circunstâncias e definir uma melhor estratégia para vencer seu adversário. E aqui poderíamos citar outras situações como exemplo.

A questão é que concentrar e manter-se focado, seja no jogo ou no treinamento, faz parte indissociável e extremamente necessária para o desenvolvimento mental de cada atleta. Tanto que a ciência esportiva moderna já integrou, em praticamente todos os esportes, o desenvolvimento mental,  elemento fundamental para alcançar os objetivos almejados . Fazendo um parênteses ilustrativo, dizem os meios de comunicação que a falta de incentivo ao desenvolvimento mental dos atletas da seleção brasileira de futebol foi uma das causas da má campanha dela na Copa do Mundo da Rússia (https://oglobo.globo.com/esportes/cbf-nao-investe-em-performance-emocional-quatro-anos-apos-7-1-22736377).

A boa notícia é que se concentrar, manter-se focado e ter mais calma podem ser desenvolvidas por qualquer um e, o melhor, com pouco esforço e totalmente de graça, fazendo uso de um instumento poderoso:  A MEDITAÇÃO.

Estudos científicos (Universidade de Miami na Florida. EUA) têm comprovado que esse instrumento está aumentando consideravelmente o desempenho de diversos atletas e alterando positivamente seus resultados. O tenista Novakc Djocovick fez largo uso da meditação e, segundo o próprio atleta, ela foi decisiva para que ele vencesse Roland Garros (único Grand Slan que ainda não havia vencido) e desde então medita diariamente (https://amuse-i-d.vice.com/djokovic-on-meditation-yoga-veganism). Outro exemplo conhecido é do maior jogador de basquete da atualidade – Le Bron James –, visto com frequência meditando nos intervalos dos jogos (https://www.collective-evolution.com/2014/01/14/6-athletes-that-meditate-to-improve-their-game).  Rafael Nadal também incorporou a meditação no seu processo de treinamento. Entre os brasileiros, o medalhista olímpico do judô Flávio Canto também fez e faz muito uso dessa técnica.

Le Bron James meditando.

E a usam com razão, pois a meditação é capaz de trazer calma para o atleta por meio da diminuição do fluxo acelerado dos pensamentos, induzindo a uma racional e mais clara tomada de decisão; aumenta sua capacidade de concentração, gerando eficiência na execução dos golpes; diminui o stress diante de situações de pressão psicológica (veja o exemplo dos meninos da Thailândia), melhora a percepção do atleta sobre a situação do jogo, possibilitando pensar melhor em mudanças táticas na partida. Ou seja, facilita todo o processo de criação esportiva, desde o aprendizado básico da técnica até a decisão sobre a melhor estratégia para vencer o jogo.

E especificamente para o tênis de mesa, em quais circunstâncias a meditação poderia ajudar? Perceba, é só desconcentrar um pouco na hora de sacar, de preparar para terceira bola, ou de defender que fatalmente a bola vai para fora, pega na quina, ou vai na rede. Sendo mais específico ainda, de nada adianta o técnico ensinar como executar um drive com perfeição se o atleta, no momento de realizar, estiver desconcentrado e, por consequência, não internalizar o movimento; ou se estiver ansioso na execução e não conseguir bater na bola no tempo certo.

É inevitável que o desempenho tenda a ser muito baixo, sem as necessárias calma, concentração e equilíbrio mental, pois esse esporte requer um ótimo tempo de reação para a execução dos golpes em razão da velocidade de suas jogadas.

Muito bem! E como obter tais benefícios? O que é necessário fazer? Meditar é de uma simplicidade enorme, muito diferente da ideia que o senso comum cria sobre ela. Há várias técnicas de meditação, mas esta é uma das mais fáceis:

Sente-se em uma cadeira, um banco ou no chão mesmo (o que você achar melhor). Mantenha a coluna reta, mas sem tensão – isso aumenta a capacidade de se concentrar. Feche os olhos. Comece a respirar somente pelo nariz (não force a entrada ou a saída de ar pelas narinas, chegue ao fluxo em que se sinta o mais confortável possível). A partir daí, se coloque na posição de observador da sua respiração. Uma testemunha que somente “vê” o ar. Simplesmente sinta o seguinte movimento: o ar entra tocando suas narinas; o ar sai tocando suas narinas. Se um pensamento “atravessar” sua concentração, não resista, deixe que ele passe como um carro passa na sua frente na rua. Mantenha esse processo, com leveza, por somente 02 (dois) minutos inicialmente e vá aumentando gradativamente até quanto tempo quiser fazer a prática.

Sugiro fazer isso todos os dias, mas principalmente antes de começar o treino, e antes das partidas de campeonato. Você perceberá rapidamente como sua maneira de jogar e de lidar com o tênis de mesa e com as situações de jogo irão melhorar e muito.

Bons treinos mestres do tênis de mesa e boa meditação!


Direitos autorais da imagem de capa: pixabay sciencefreak-97947


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