Quando eu vejo essa medalha, o que me vem à cabeça é um passado, um presente e uma nova fase para Gustavo França no tênis de mesa. E ainda trago a seguinte reflexão: o que é vencer?

O passado

Comecei com o Gustavo do zero em março de 2017. Ele jogava tênis, mas pouca coisa foi aproveitada. Para se ter uma ideia, a sua maior dificuldade era movimentar para a sua esquerda antes de golpear uma bola básica. Para a direita tudo bem. Muitos treinos foram feitos somente para ele melhorar essa habilidade específica. Sua evolução técnica foi uma construção passo a passo, sem atropelos. Ele tinha tanta dificuldade na movimentação para a esquerda que eu poderia ter ensinado o básico e pulado, passado para frente para ele “não se frustrar tanto com essa dificuldade”. Mas a gente sabia da importância que isso teria lá na frente e continuamos.

Duas características fundamentais que eu percebia no Gustavo, desde o início dos treinos: resiliência e paciência. Ele não se deixava levar pelo que não dava certo e evitava se abater, se entregar. Quando se abatia, o que é normal, procurava se reerguer. Entendia que ainda não estava jogando como gostaria, percebia as dificuldades e limitações, mas mantinha o foco em como melhorar determinada situação, mantinha a crença e a persistência de que conseguiria adquirir um jogo melhor. 

Em setembro de 2017 ele resolveu disputar o seu primeiro torneio. Obviamente que em uma competição todos almejamos ganhar ao menos algum jogo. Sua primeira experiência foram duas “derrotas” e nada mais. O tempo foi passando, continuou competindo e nada de muito significante acontecia. O Gustavo era um novato no esporte e estava lidando com as dificuldades naturais de um novato: dispersão, nervosismo e ainda não tinha uma identidade técnica e tática mais sólida.

Por volta do segundo semestre de 2018, algo diferente começou a acontecer. Ele jogava bem contra alguns veteranos em jogos não oficiais, mas quando ia para os torneios oficiais o jogo não acontecia tão bem como gostaria. Estava melhor, tinha placares à frente, mas não se mantinha rendendo bem.

O presente e o início de uma nova fase

Devido a isso, em janeiro de 2019 introduzi uma abordagem complementar para ele, a mentalidade. Como criar um comportamento e uma mente mais vencedores? Decidi que precisávamos entregar de forma mais clara o sentido do esporte, criar desafios pessoais maiores, romper com crenças limitantes (por exemplo a de quem joga a mais tempo é melhor), precisávamos que ele usasse melhor da motivação e que criasse uma linha de raciocínio que o ajudasse a manter o controle da situação em cada fase do jogo. 

Booom… Seu jogo apareceu muito mais e também foi premiado com essa primeira medalha em um torneio individual que você vê na foto. Era o 15º DECATHLON BH OPEN, realizado pela Federação Mineira no dia 25/01/2019. 

Mário Leão tênis de mesa
Primeira medalha individual do Gustavo em um torneio da Federação Mineira

Por eu estar trazendo a minha abordagem de como as coisas foram, você deve estar pensando que estou dizendo que o mérito é meu. Não. O mérito é do Gustavo, da sua resiliência e da sua forma de ver e entender o aprendizado.

Agora ele está entrando em uma fase de um encontro mais sólido consigo e com o seu tênis de mesa

É claro que tem muito para melhorar, mas para mim é importante reconhecer essa fase pela qual ele está passando.

Um ponto a considerar: se quisesse que ele apenas vencesse rápido em jogos, teríamos feito um monte de adaptações no seu jogo só para ele ter esse tipo de resultado e evitaria que ficasse exposto aos seus maiores desafios. Com isso ele poderia até vencer jogos mais rápido, mas acredito que se transformaria em um jogador mais fraco frente às adversidades e limitado tecnicamente. 

Gustavo em competições anteriores

O caminho de melhoria do Gustavo hoje está bem aberto. Sua base técnica bem construída com o seu esforço somada à sua atual forma de pensar lhe dão muito mais espaço para o crescimento.

Sobre o quanto melhor ele está sendo

Por falar em crescimento, eu falei muito de tênis de mesa até aqui. Mas o que de tudo isso é mais importante? O que entregamos a todo momento, “por linhas tortas”, ao Gustavo e aos outros alunos com nossas aulas personalizadas? Um engrandecimento pessoal refletido no tênis de mesa. 

O jogo bonito que o Gustavo fez no BH Open é reflexo de como ele está no momento. Eu tenho absoluta certeza que ele deu esse passo importante devido a uma evolução pessoal. Esporte e crescimento pessoal tem que caminhar juntos.

Ninguém fica em um esporte sem estar se sentindo bem, sem se desenvolver pessoalmente. Ou você já viu alguém jogar bem sem autoconfiança, sem motivação, paciência, sem calma, sem perseverança, sem crença, sem uma boa administração das expectativas, sem força de vontade, sem coragem, etc.?

O esporte bem praticado e bem conduzido é uma metáfora da vida. Ele entrega autoconhecimento, desenvolve suas qualidades potenciais e faz surgir novas. São transformações pessoais que refletirão no Gustavo, em qualquer área. 

O que é vencer?

Vencer é conseguir se movimentar para a esquerda quando tudo só funciona bem para a direita.

Parabéns, Gustavo França! Parabéns pelo que você precisou construir para “ter essa medalha”, símbolo das etapas vencidas, da sua melhoria técnica e pessoal e símbolo do que ainda está por vir.

Palavras do Gustavo sobre a conquista

“Faz quase dois anos que comecei a aprender tênis de mesa com o Mário Leão, treinando uma vez por semana. Comecei do zero, nem ping pong eu jogava. No começo tive muita dificuldade, mas com esforço e paciência, minha e dele, fui melhorando aos poucos, dentro da minha medida/idade. O tênis de mesa se tornou para mim um momento desestressante, de diversão e de atividade física. Fiz novos amigos e tenho conseguido alcançar meus objetivos pessoais com o esporte. A medalha de terceiro lugar no último BH Open representou para mim a culminação de vários meses de esforço e paciência para aprender a jogar razoavelmente o tênis de mesa. Contei com a ajuda inestimável do Mário Leão nessa caminhada, tanto na parte técnica, quanto com relação à parte motivacional. Espero que esse percurso continue e que seja longo! Valeu, Marinho!”

Mário Leão tênis de mesa
Gustavo no pódium

 

 

 


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