Cheguei a Mário Leão há um pouco mais de um ano. Cabelos brancos, o sedentarismo – que muito me incomodava – e no peito um desafio a que me propusera: tornar-me mesatenista. Orgulhoso pelo fato de ter comprado uma mesa onde jogava com poucos amigos, uma raquete oficial usada além de ter lido o regulamento do esporte avisei de cara: “- Já sei jogar. Preciso de um aperfeiçoamento”.
Mário, gentileza em pessoa, recebeu-me carinhosamente como aluno. De início um bate bola para nivelamento. Provavelmente na segunda raquetada ele identificou que o desafio seria enorme. o pouquíssimo que sabia era um nada, precisava ser reconstruído. Era feito sem nenhum princípio técnico. Começaríamos do zero.

Iniciei os treinos duas vezes por semana: saques, drives, batidas, forehand, backhand preencheram meu universo. O requinte e o capricho técnico – que eram indicados e devidamente esclarecidos pelo Mário em cada fundamento – aumentavam meu interesse. Dediquei-me com afinco. Ansiava pela próxima aula. Paradoxalmente – por outro lado, em alguns determinados momentos – frustrado com algum mal desempenho, algo natural em todas práticas esportivas, pensava em desistir. Nestes momentos, com paciência e realismo Mário estava lá a me reanimar e ajudar a entender a evolução pela qual eu passava. O desânimo nesses ‘sets’ sempre sofria derrota para a carga de motivação.
Entre as características de Mário eu poderia destacar várias: a didática apropriada ao esporte, a paciência, o domínio de conteúdo, mas todas estas referem-se a capacidade esperada dos bons professores.  Porém, mais que isto ele é um treinador com absoluto rigor pelo primor técnico. Lida com isto de jeito especial. Quase personalizado.
Esta característica, este absoluto cuidado com a técnica é um diferencial. Faz sentido e apura o requinte de cada aluno. Lembro-me um episódio: quando comecei a treinar drives a bola era projetada sem a carga de efeito desejada e sem a força necessária. Estávamos pela terceira, quarta aula. Várias informações e correções haviam sido processas. Porém o drive ainda insistia em não ‘encaixar’. Mário, treinador atento, parou ao meu lado. Virou telespectador. Orientou-me a repetir o movimento. Primeiro simulando-o no vazio sem bola. Depois com bolas lançados por mim mesmo. O diagnóstico veio: o pulso movimentava-se ao fim da execução do golpe. Como fiz cara de paisagem ele traduziu: ” – você está dando uma pancada com um porrete quebrado na ponta”. Rimos da comparação. Ele passou alguns exercícios específicos. Um treino especial para movimentos com o braço. Naquele dia mesmo o golpe atingiu outro patamar.
Hoje, feliz, reconheço que o ‘porrete come solto’ em cada oportunidade que tenho. Isso, por si só, não me garante sucesso, vitórias, projeção. O contexto de uma partida é bem mais complexo que executar um golpe. Entendo, porém, que o que aprendi até hoje, incluindo tais golpes, permite-me enfrentar adversários experientes, todos eles com ótimos recursos técnicos, de maneira muito digna. E o faço com muito orgulho. É uma conquista.
Desta forma, enfrentando jogadores que praticam há muito tempo alinho minhas expectativas. E apenas executar o que aprendi nos treinos me torna, por ora, muito satisfeito. Reconheço assim que vencer ou perder não diminui a alegria do desafio. Relembro uma máxima do Mário utilizada muitas vezes nos treinos e ocasionalmente em uma partida que disputei e ele estava presente. Disse-a pra mim entre um set e outro: ” -vá lá e se diverta!”.
Obrigado, Mário! Frente a mesa, raquete em punho, sou menino me divertindo a beça.

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