Um privilégio tantas gerações vivenciarem a carreira de sucesso de Fábio Mendes! E para marcar ao menos 6 décadas de tênis de mesa muito bem jogado, fizemos uma entrevista com ele. Confira!!

– Oi, Fábio, obrigado por conceder a entrevista! Prazer enorme falar com você e de ter tido a oportunidade de conviver todos os meus anos de prática o vendo jogar e sendo inspirado pelos seu belos lances. Hoje queria lhe fazer umas perguntas em nome de todos os que o admiram e com a finalidade de homenagear a sua representatividade no tênis de mesa mineiro. O que me fascina é ver a nova geração, por exemplo os meus atuais alunos, falarem tão bem da sua conduta e performance na nossa modalidade. É uma forma de reconhecimento novo, demonstrando como seu passado e presente continuam inspirando a todos nós. Nos sentimos orgulhosos em tê-lo nas mesas.

– Boa tarde, Mário, e obrigado pelo interesse! Normalmente não gosto de falar sobre mim, especialmente quando há tantos jogadores melhores em ação. Mas vamos lá!

Fábio, como iniciou a sua trajetória no tênis de mesa? Quando e como tudo começou?

Aprendi a gostar do tm desde os seis anos de idade, praticando em casa, na mesa da sala de jantar. Ao entrar para o Externato São José, no Rio de Janeiro, onde residia na época, para cursar o primário, encontrei uma atividade organizada (5 mesas, torneios contínuos, o vencedor de cada mesa avançava para a seguinte). Comecei na 5ª mesa e em pouco tempo disputava a 1ª mesa com os melhores jogadores do colégio. Mas o começo efetivo foi no tempo da universidade (55 a 59), quando conheci a FMTM, em BH, fundada em 1952 pelo José Carlos da Rocha Barros.

Fábio Mendes em pé, o primeiro da esquerda para a direita. Ao centro de óculos, o fundador da FMTM, José Carlos da Rocha Barros. Década de 50.

Qual o papel do tênis de mesa na sua vida? O que ele representa?

Sempre foi o meu esporte de predileção, e, excetuado o período de 61 a 75, quando fiquei afastado, nunca deixei de praticá-lo. Acredito que este dom, que, como qualquer outro, é graça de Deus, seja um dos responsáveis pela conservação da minha saúde até hoje.


Na sua opinião, o que o fez permanecer tanto tempo jogando tão bem?

Treino e dedicação, procurando sempre evoluir pela observação dos melhores jogadores, já que, desde o início, sempre fui autodidata e nunca tive alguém para me ensinar.


Qual vitória você considera mais icônica na sua carreira?

Difícil dizer. Acho que todas.


Alguém lhe inspirou na construção do seu estilo de jogo? Algum atleta?

De modo geral, os chineses é que orientaram minha filosofia de jogo, procurando jogar perto da mesa e com economia de movimentos. Mas sempre procurei imitar os jogadores que se destacavam em alguma jogada, para aperfeiçoar o jogo.

Uberaba, 1957, II Jogos Universitários Mineiros. Fábio é o quarto da esquerda para a direita.

Quais os benefícios alcançados com o tênis de mesa você considera mais importante?
Satisfação, saúde, qualidade de vida e melhoria de reflexos, que até me ajudam muito em outras atividades, como na direção de veículos.

De onde surgiu a ideia de ser ambidestro? O que o motivou?
Já que o esporte desenvolve a musculatura e reflexos, é bom também desenvolver o lado direito do cérebro, que controla os movimentos do lado esquerdo do corpo. E também pelo exemplo de algumas pessoas que tinham essa habilidade e que achei importante desenvolver.

Muitos jogadores, inclusive eu, se sentiram frustrados e ao mesmo tempo lisonjeados em perder para você jogando de mão esquerda. O que acha disso?
Que eu me lembre, jamais venci Mário Leão com a mão esquerda, e muito poucas vezes com a direita. Mas é verdade, alguns jogadores não gostavam de perder para a mão esquerda e para evitar constrangimentos parei praticamente de usá-la para jogar.

Reza a lenda que em um mesmo torneio você se inscreveu para duas participações, uma como Fábio Mendes – destro, outra como Fábio Nunes – canhoto, tendo como final Fábio Mendes contra Fábio Nunes. Isso é verdade?
Na verdade, não é lenda. Aconteceu de fato em um torneio aberto do Olympico Club, que reunia em média cerca de 80 jogadores divididos em categorias.
Fábio levantando em sua casa a taça “Troféu Tribuna Sul Mineira”  de 1º lugar no Campeonato Mineiro de 1981, realizado em Poços de Caldas.

Como se sente sendo um ícone do tênis de mesa de Minas Gerais, campeão mineiro por diversas vezes e inspiração para tantos jogadores?
Não me considero ícone algum. Questão de oportunidade, talvez, por não existir um tênis de mesa desenvolvido na época. Basta ver como o surgimento de jogadores como Michael Kleefeldt, Mário Leão, Bruno Possas e outros mudaram completamente o panorama.

Que mensagem você gostaria de deixar para seus fãs e futuras gerações de mesatenistas?
Sempre afirmei que o importante para o desenvolvimento é, além da habilidade pessoal, que é um dom de Deus, a necessidade do gosto pelo esporte. Só assim haverá perseverança para alcançar bons resultados.

Fabio Nunes Mendes tem 81 anos, natural de Belo Horizonte, é engenheiro civil com especialização em engenharia de processamento e engenharia econômica, agora aposentado. Perguntado sobre seus títulos, Fábio nos contou o seguinte: 

Foram bastantes, individual, duplas e equipes. Não dá para lembrar  (não me preocupei nunca em anotar os eventos), mas posso ver, como exemplo, nos troféus e nas mais de cem medalhas que restam (já me desfiz de grande parte) alguns torneios onde fiquei em 1º lugar:

Campeão Mineiro de Duplas, 1956;
Torneio da Cidade, 17/6/58;
Troféu “A Gazeta Esportiva”, FUME/FUPE/FAE, 1958;
Em 59 e 61, bi-campeão do torneio Minas, Rio e Espírito Santo, torneio que não mais se repetiu;
Duplas e equipe no 3º Torneio FUME-FAE-FUPE, 1960:
Camp. Min. equipe, FMTM 1979;
Idem, equipe, FMTM 1980;
Duplas, em 1980;
Penta campeão mineiro individual de 1977/78/79/80 e 86;
Torneio Raquete de Ouro, 1982;

Fábio em ação. Década de 80.
No período, participei de Campeonatos Brasileiros da CBTM, trazendo, nos jogos de equipe, ao lado de Renato Belisário, Arpad, Tompa e outros, a terceira colocação para MG. Nunca tive expressão nacional no TM – ao que me lembre, o único mineiro que conseguiu chegar à seleção brasileira foi Gilmar Aleixo, até hoje não superado por qualquer jogador das Gerais.
Equipe do Olympico Club. Década de 70 para 80. Da esquerda para a direita, Marcio Teixeira (Marcinho), Renato Belisário, Fábio Mendes, Marcos Valadares e Fukuda.
Vários Campeonatos Abertos da FMTM, de 82 em diante; conforme o ranking da época, permaneci em primeiro até 1997, quando, ao completar 60 anos, fui definitivamente superado por Michael Kleefeldt, que revelou-se, até hoje, como um dos melhores jogadores que já surgiram em MG, ao lado de Mário Leão, que foi sempre o seu grande adversário. Outros jogadores habilidosos também surgiram nas décadas de 60 a 90, mas tiveram rápida carreira, e não continuaram no esporte;

Festival de jogos de mesa-SESC,1995,1998, 2000;
Torneio Prof. Geraldo, 1990;
Campeonato Estadual , FMTM 2000
Torneio de Ranqueamento, FMTM jul/2000;
Torneio de Ranqueamento, FMTM jun/2001;

Continuo participando dos campeonatos que surgem, com colocações variadas, até hoje. Na categoria veteranos, com poucas exceções tenho ficado na 1ª posição, mesmo na categoria de 50 anos (em 2017 venci o Circuito Regional na categoria de 50 e de 60 anos).
É isso aí. Enquanto puder, continuo dando trabalho para os novos jogadores que surgem…
Campeonato Mineiro de Equipes de 1997, no Ginásio do Yadoya, em Belo Horizonte. Da esquerda para a direita: Fábio Mendes, Torres, Túlio e Fernando Lima.

Separamos alguns relatos de amigos que estiveram com ele durante a sua trajetória:

Renato Belisário (reprodução de áudio) – “Beleza, Mário, então vou lhe dizer sobre o Fábio. O Fábio é o maior campeão mineiro DE TODOS OS TEMPOS. Ele venceu praticamente todos os que já foram algum dia campeão mineiro. Exceto o Wesley, que virou um atleta de alto nível muito depois, e o Fábio já está com mais de 80 anos, então não o venceu. Mas eu vou te dizer: de repente, em uma final de algum campeonato importante, eu ainda acredito que o Fábio possa vencê-lo. Então ele é um ídolo, na verdade para nós da geração dele, né? Eu aprendi a jogar tênis de mesa com ele, por um convite dele, que me viu jogando um dia. Eu estava na faculdade, participei de um evento da Petrobrás e ele me convidou e eu virei depois o segundo atleta do Olympico, num período em que o Olympico vencia tudo que jogava. De 1978 a 1981, nós ganhamos TODOS os campeonatos mineiros de equipe, TODOS os campeonatos mineiros individuais, TODOS os campeonatos mineiros de duplas. Vencemos tudo. Eu tenho o maior orgulho de ter vencido o Fábio na época em que ele tinha quarenta e poucos anos. E ele jogava num altíssimo nível. Tão alto nível que ele chegou entre os oito finalistas de um Brasileiro em 1980, em que o Biriba foi campeão. O Fábio estava entre os oito melhores no adulto do Brasil, vencendo inclusive o Gilmar nessa competição! Então o Fábio é uma pessoa que eu sou suspeito pra falar sobre ele. É meu padrinho do meu primeiro casamento, sou amigo dele, respeito demais ele. E ele, do modo dele, da maneira dele, desenvolveu de uma maneira autônoma, de uma maneira autodidata. E ele é o melhor, o melhor jogador de Minas Gerais de todos os tempos. Não tenho dúvida em dizer isso. Ao ponto de você, quando joga com ele, ter dificuldade de ganhar dele. Ele vence jogadores que é inacreditável! É uma pessoa muito humilde, muito humilde. Uma pessoa que não vangloria as suas vitórias… Ele fez agora um ato que eu achei sensacional. Ele doou, nós estamos guardando lá na AMA, todos os troféus que ele ganhou em todos os campeonatos. Nós vamos fazer um museu guardando esses troféus. Ele foi capaz de vencer, eu posso te assegurar aí: Godofredo quando era o melhor jogador na década de 75, por aí, o Arpad quando era o melhor jogador nos anos 76, 77. Depois quando ele se tornou de novo um grande jogador, pois ele tinha parado por 10 anos, na volta do Fábio, que era 76, 77, por aí, e o melhor jogador era o Dico, daí para frente o Fábio ganhou tudo que jogou. Ele teve momentos em que ele perdeu pra mim, que ele perdeu para o Arpad, que ele perdeu pro Márcio, que ele perdeu pro Barriga, que ele perdeu pro Túlio, mas ele perdia e logo ganhava depois. Então ele, ele na verdade nunca foi superado. Ele jamais foi superado. Eu vou dizer que o maior jogador hoje, que pode se dizer assim, que ele nunca ganhou, foi o Wesley. Os outros todos que estiveram em Minas Gerais, todos os tempos que ele jogou, ele superou todos. Então é…. acho que ele desenvolveu, e ele tem uma habilidade pessoal, ele desenvolveu uma maneira de vencer. E a gente que treinou com ele, eu fui sparring dele, eu treinei com ele de 76 a 81, aprendi perdendo pra ele. Primeiro de mão esquerda, né? Ele jogava com todo mundo de mão esquerda, e depois de mão direita. E a gente aprendia apanhando dele, na verdade, porque ele era aquele jogador que era competitivo até no bate-bola. No bate-bola dele ele queria vencer. Excepcional, excepcional… Eu tenho um respeito a nível nacional… recentemente conversando com o Alaor, presidente da Confederação, ele falou que era pra gente fazer uma homenagem pro Fábio. O Fábio era conhecido como o revés, o melhor revés do Brasil, que hoje chama de backhand, né? Ele era o melhor backhand do Brasil, ele era reconhecido assim. Contemporâneo do Betinho, do Biriba, nunca tivemos um jogador em Minas Gerais como ele. Espero que a gente venha a ter, agora nessa nova fase da Federação, jogadores que tenham condição de superá-lo! É uma pessoa com uma capacidade de assimilar o jogo do adversário, uma capacidade de identificar os pontos fracos do adversário, de explorar os pontos fracos do adversário. Ou seja, com uma grande estratégia de jogo! Muito grande estratégia de jogo. Joga com técnica apurada, muito parado, sem precisar se movimentar, mas com uma estratégia de jogo, uma coisa FENOMENAL! Ele conseguia virar jogos, né.. Eu hoje vejo as pessoas falarem assim: jogadores como o Calderano e tal tem grande força mental. Se você for falar de força mental com o Fábio, é BRINCADEIRA! Ele é capaz de virar situações onde ele está completamente batido, completamente derrotado e ele vira a partida. Então eu sou suspeito pra falar. Aprendi com ele e respeito o jogo dele demais, gosto demais de treinar com ele, vou à casa dele quando posso pra treinar com ele, e ele, SEM DÚVIDA, pra mim, é um fenômeno. É o melhor jogador mineiro de tênis de mesa DE TODOS OS TEMPOS, MÁRIO.”

Fábio Mendes – 2015

Arpad – Sobre o Fábio Mendes tenho duas opiniões distintas:

  1. Sobre a pessoa, um cara muito legal, muito atencioso, educação e cultura bem acima da média, um grande amigo.
  2. Sobre o jogador, ai não dá para ser feliz com ele… ganha praticamente todas as partidas, não te dá quase nenhuma oportunidade. Se então fizer dois pontos à frente, já se pode ir pensando no próximo set ou no próximo campeonato. Esse em que deu azar de cruzar com ele já era…. As bolas longas e paralelas são muito difíceis de devolver, e quando você devolve, logo vem uma outra mais complicada. É entrar em um torneio, ver que o Fábio está lá e já se conformar que a maior chance é a de chegar no máximo em segundo lugar. Mas para a minha alegria e grande surpresa, algumas poucas finais davam zebra e eu ficava em primeiro, mas, repetindo, poucas vezes.

Convivo com ele já tem algumas décadas. O jogo e o caráter dele sempre estiveram em elevado nível e, pelo que vejo, isso ainda durará por muitos anos…

Um abraço de um amigo e, especialmente, de um fã e admirador!


José Geraldo Torres – Falar do Fábio é muito fácil. Ainda mais para mim que tive o privilégio de trabalhar na mesma empresa que ele. Jogávamos diariamente no horário do almoço. Fábio é uma pessoa maravilhosa, cheia de virtudes e qualidades, pessoa amiga, é generoso, companheiro e parceiro de todas as horas. Como se não bastasse, é o melhor jogador de tênis de mesa de todos os tempos do nosso Estado. Se tivesse tido incentivo, ele estaria no rol dos grandes jogadores mundiais. Na verdade ele me ensinou os primeiros manejos com a raquete de tênis de mesa. Quantos atletas se inspiraram no seu talento e na sua técnica?

Alguns fatos engraçados marcaram a nossa trajetória no tênis de mesa:

  1. Logo no início, quando comecei a jogar, o Fábio tirou da sacola uma raquete de 10 cm de diâmetro, pouco maior que a bola, e começou a jogar com todos que ali estavam no horário do almoço na REGAP. Acreditam que mesmo assim ele ganhou de todo mundo??
  2. Nós tínhamos uma hora de almoço. Nos 25 minutos finais eu subia para almoçar. Todos os dias eu chegava na mesa todo ensopado. Os meus colegas me gozavam e perguntavam se eu tinha tomado banho. Eu respondia que era por causa do treino de tênis de mesa. Aí eles perguntavam: “Por que o Fábio chega sequinho, sem um pingo de suor?” Aí eu dizia: “O Fábio tem tanta técnica que pode jogar com a gente até de terno e gravata e não derramar nenhum suor.”
  3. Vocês sabem que o nome completo dele é Fábio Nunes Mendes. Foi feito um campeonato contendo duas chaves. Uma chave em que o Fábio disputou como Fábio Nunes, jogando de mão esquerda, e a outra como Fábio Mendes, de mão direita. Como ele classificou em primeiro nas duas chaves, não foi possível fazer a final. Afinal, esse é o Fábio.

Existem pessoas que a gente tem o prazer e o privilégio de conhecer e conviver. Uma dessas pessoas na minha vida é o Fábio. O Fábio é realmente gente boa!!!


Márcio Teixeira (Marcinho) – Logo que comecei a jogar tênis de mesa, conheci o Fábio, que me levou para o Olympico Club. Se não me falha a memória, foi em 1976 ou 77. Treinei, joguei e convivi com o Fábio por muitos anos. Formamos uma equipe, no Olympico, que ganhou todos os campeonatos de equipes em Minas, por muitos anos. Várias vezes, entrávamos com duas equipes e éramos campeões e vice-campeões. Além de tudo que já foi dito sobre o Fábio como jogador, ressalto que ele era o diretor técnico de tênis de mesa. Ele era o dirigente por trás de tanto sucesso. Vários atletas que passaram pelo Olympico após o Fábio, devem a ele a estrutura deixada. Quando ele decidiu sair do Olympico, ele me deixou como diretor técnico. Algo inaceitável, pois eu não era sócio do clube. O prestígio do Fábio era tanto que a diretoria aceitou. Se não fosse isso, eu não teria trazido o Fernando Lima que formou uma nova geração de ganhadores. A própria existência do Campeonato Aberto de tênis de mesa, que era realizado semanalmente e existiu sem interrupção por muitos anos, tem o dedo do Fábio por trás. Muitos jogadores que ainda jogam conheceram o tênis de mesa por meio desse campeonato.
Em algum momento, acho que após o Fábio ter ficado em 5º lugar no campeonato Brasileiro individual do Rio de Janeiro, o Fábio limitou suas viagens para disputar campeonatos Brasileiros. Quando eu chegava de alguma viagem para disputar algum campeonato ou fazer algum treinamento, o Fábio sempre vinha me questionar sobre novidades técnicas. Ele sempre estava incorporando alguma nova jogada ao seu repertório. Ainda hoje, esta é uma característica dele, sempre querendo melhorar ainda mais.
Além de grande jogador e grande dirigente, o Fábio sempre foi um grande incentivador. Tudo que consegui fazer no tênis de mesa sempre tinha o Fábio incentivando e ajudando de alguma maneira. Fiquei uns 20 anos sem jogar. Com alguma frequência, o Fábio me ligava e me convidava para bater bola. Mesmo eu não indo, ele continuou insistindo e agora estou aqui tentando jogar novamente. Quando contei a um amigo que estava tentando jogar tênis de mesa, ele me perguntou sobre um senhor que jogava muito bem e que ele tinha visto jogar no passado. Disse para ele que este senhor estava com 80 anos e ainda jogava em altíssimo nível. Meu amigo quase não acreditou.
Quero agradecer ao Fábio por tudo que ele fez por mim e pelo tênis de mesa. Sempre que eu o enfrentei e ainda enfrento, tenho a certeza de que será um excelente jogo!


Bruno Pôssas – Fabio Mendes: Um exemplo de Atleta

Já fazem vários anos que tive o prazer e o privilégio de jogar a minha primeira partida contra o senhor Fabio. O resultado, como esperado, foi uma lavada categórica muito difícil de ser esquecida. A minha maior lembrança desse jogo está relacionada a atitude e a forma como o Fabio conduziu a partida. Jogou sério, do primeiro até o último ponto, sempre fiel a sua tática de ataques próximos à mesa. Depois de muito treinamento e vários jogos (até mesmo no condomínio onde o Fabio morava ou mora) eu obtive a minha primeira vitória. Ainda precisei de vários anos até conseguir consistentemente ganhar os jogos contra ele. Assim como no primeiro jogo, a obediência tática, o respeito ao adversário e a forma limpa de jogar sempre estiveram presentes e que, para mim, se tornou a marca registrada deste grande atleta. Depois de mais de 20 anos afastado desse esporte, tive a enorme e feliz surpresa de saber que o Fabio ainda é um dos melhores atletas que temos em nossa cidade. Muito obrigado, Fábio! Aprendi muito com os nossos jogos e você teve um impacto bem grande na minha formação como atleta.

Para terminar, gostaria de deixar uma dica para os novos atletas. Jogar sério é a melhor maneira de demonstrar respeito ao seu adversário, não importa se o placar final ficar 11 x 0 a seu favor. Observem o Fabio Mendes e tenho certeza que vocês se tornarão melhores atletas, assim como aconteceu comigo.

Abraços,

Bruno Pôssas


Mário Leão – Eu conheci o Fábio no Clubinho, no início da década de 90, em 92 ou 93. Eu tinha 10 ou 11 anos.  O Clubinho era um ótimo empreendimento de iniciativa do Renato Belizário na Savassi. Mais à frente entraram alguns sócios-apoiadores, dentre eles o próprio Fábio. Na verdade eu já o tinha visto jogar antes, no Mineirinho. O Fábio era da primeira divisão da Federação Mineira, na época administrada pelo Noto. Quando entrei pela primeira e única vez no Mineirinho, o primeiro jogo à minha frente era o do Fábio Mendes contra o Bruno Possas. Meu irmão, o Welerson, atleta à época, não parava de tecer elogios a ele. “Aquele é o Fábio, e blá blá blá… blá blá blá… JOGA DEMAIS!”

Voltando ao Clubinho, foi lá que fui apresentado ao Fábio, e foi lá que tomei a real noção do quanto o Fábio era diferenciado. Quando cheguei lá, talvez na minha primeira vez, o Fábio estava na primeira mesa e meu irmão me disse que ele estava jogando de mão esquerda. Aí ele começou a explicar: “o Fábio joga com as duas mãos; primeiro ele joga de mão esquerda e se a pessoa conseguir ganhar, aí sim ele passa a jogar de mão direita.” Aquilo para mim foi impactante! Quer dizer que para ganhar dele os jogadores precisam vencer duas etapas?? (Pensei comigo.) E ali, minha difícil meta, era primeiro tentar vencer o Fábio de mão esquerda pra só depois pensar na mão direita. Dá pra imaginar? 

Bom, muito pouco tempo se passou e logo conheci o Fernando Lima, meu treinador. Começamos a treinar no Olympico Club, eu, Stefan, Davidson e Joãozinho. Depois que adquirimos um bom nível, certo dia o Fernando nos perguntou quem seria o melhor jogador veterano para jogar contra a gente antes das principais competições, as Copas Brasil e Campeonatos Brasileiros. Concluímos que o Fábio era o mais habilidoso, mais talentoso, mais versátil. Não me lembro dos resultados dos jogos, mas sofríamos com as suas batidas precisas.

Perdi inúmeras vezes para o Fábio até melhorar meu jogo. Certa vez, em um campeonato aberto realizado pelo Fernando no ginásio do Olympico, época em que o Fernando era presidente, eu estava jogando contra o Fábio. Não lembro qual a fase da competição, mas o importante era que era contra o Fábio. O Fernando acompanhando o jogo todo como técnico. Lembro-me como se fosse hoje. A disputa era em melhor de 3 sets de 21 pontos. Estava 1×1, 20 a 19 para mim e o saque na minha mão. Escutei o Fernando dizendo: “Prepare a jogada!” Eu fui para a mesa sacar para um ponto importantíssimo. Como sabia que o Fábio, mesmo quando a gente sacava curto, batia muito bem o saque de forehand e de backhand, eu decidi sacar curto e com efeito por baixo no meio. Tinha a certeza de que a bola voltaria e eu precisava me preparar bem para a próxima jogada. O saque foi muito bem executado, com muito efeito e bem atrás da rede, e o Fábio, INESPERADAMENTE, mandou a bola na rede. Eu fiquei sem reação. Não imaginava que um ponto como aquele ficaria na rede. Olhei para o Fernando, o Fernando muito alegre me abraçou e comemorou bastante. Foi a primeira vez que ganhei do Fábio. Esse ponto foi um marco, pois ganhar uma partida do Fábio era ter a certeza de estar em outro patamar. E foi a partir daí que comecei a ter algum destaque no tênis de mesa.

O Fábio contribuiu bastante para o meu desenvolvimento. Sempre é complicado jogar contra ele. Usa de muitas variações e de muita habilidade, exigindo muito da nossa concentração. É um atleta de referência e é muito admirado. Sua conduta é exemplar. Eu perdia para ele e ele, ao fim do jogo, me dava dicas de como eu devia jogar. Ou dizia que eu o havia deixado ganhar, dá pra entender? Quando eu ganhava, me dava os parabéns. É muita satisfação poder jogar com ele ainda hoje, após muitos anos. O jogo tem uma substância, um contexto, uma energia diferente em relação a outros jogos. E sempre, sempre, vai marcar a partida com seus belos lances.

Ah, e vou contar uma situação engraçada. Quando fui à casa do Fábio para pegar alguns materiais para complementar a entrevista, o Fábio me questionou sobre como ganhar de um adversário X, e sua esposa, ouvindo aquilo, disse: “vê se pode! Nessa idade ainda querendo ganhar!” Pronto, kkkk, caímos na gargalhada. E o Fábio responde: “Claro, eu sempre quero ganhar, hahahah…”.

Muito bom, Fábio!! Parabéns!! Obrigado pelos momentos!!

Fábio hoje, 09/08/2018, aos 81 anos. Foto: Mário Leão

Significado de ícone:

Um ícone é alguém que serve de exemplo, cuja conduta deve ser espelhada. Um ícone muitas vezes gera identificação com o público, como é o caso de artistas e esportistas, que são ícones do que fazem. Um ícone se diferencia de um ídolo devido à imagem de excelência que acompanha o ícone, e que não necessariamente vai acompanhar o ídolo. A diferença consiste no fato de que um ídolo não precisa ser um destaque no que faz, basta que as pessoas gostem dele. Já o ícone é um exemplo a ser seguido, ou seja, deve possuir excelência naquilo que faz.

Fonte: http://www.cuidar.com.br/icones


Comentários